Quando o assunto é saúde, a balança reina absoluta na cabeça de muita gente. Subir naquele aparelho e ver o número ficar menor é quase uma vitória olímpica. Mas, na verdade, o peso sozinho é um narrador bem limitado dessa história. Ele não diferencia músculo de gordura, nem diz onde essa gordura está acumulada. Por isso, ela pouco diz sobre a nossa composição corporal. Composição corporal é a divisão entre massa magra, músculos, ossos, órgãos, água, tudo que dá estrutura e funcionalidade ao corpo, e massa gorda, que é apenas a gordura mesmo.
É aí que entra a relação cintura-altura, a RCA, uma medida simples que dá pistas sobre como a gordura está distribuída e o que isso significa para o risco de diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e outras complicações metabólicas.
Pra calcular a RCA você divide a medida da sua cintura, em centímetros, pela sua altura, também em centímetros. O resultado é um número que indica se a gordura acumulada na região abdominal está dentro de uma faixa saudável. Por que a cintura? Porque a gordura visceral, aquela que se esconde entre os órgãos, na barriga, é a mais perigosa para a saúde. Diferente da gordura subcutânea, que fica logo abaixo da pele, a visceral é metabolicamente ativa e pode desencadear inflamações, resistência à insulina e até problemas cardiovasculares.
Então, segue o passo a passo pra você calcular a sua RCA: Pegue uma fita métrica e coloque em volta da cintura na altura do umbigo, sem apertar demais e sem “puxar a barriga”. Divida esse valor pela sua altura (ex.: cintura de 80 cm ÷ altura de 170 cm = 0,47).
O ideal, segundo estudos, é manter a RCA abaixo de 0,5 para adultos, independentemente do sexo. Acima disso, o risco de doenças crônicas começa a subir. Para crianças e adolescentes, as faixas variam um pouco, mas o conceito é o mesmo: cintura proporcional à altura é sinal de saúde.
A balança tende a nos enganar. Um atleta musculoso pode ter o mesmo peso que alguém com excesso de gordura, mas a saúde dos dois com certeza, é completamente diferente. Já a RCA foca no que realmente importa: a gordura abdominal. Estudos, como os publicados no Journal of the American College of Cardiology, mostram que pessoas com RCA elevada têm maior risco de infarto, diabetes tipo 2 e até mortalidade precoce, mesmo que o peso esteja “normal”. É uma medida que vai direto ao ponto, sem precisar de equipamentos caros.
Você também pode optar por usar as balanças de bioimpedância. Elas estimam percentual de gordura, inclusive de gordura visceral, massa muscular e até água no corpo, usando uma corrente elétrica leve que passa pelos tecidos.
Os resultados que, normalmente, as balanças de bioimpedância mostram são: de gordura, que para adultos, um percentual de gordura saudável varia de 21-32% para mulheres e 8-19% para homens, e de gordura visceral abaixo de 100 cm² ou nível 10 indica baixo risco de doenças como diabetes e problemas cardíacos. Mostra ainda a massa magra, que inclui músculos e ossos, e deve ser proporcionalmente alta (65-80% do peso em mulheres, 75-85% em homens) para garantir força e proteção dos ossos. Também tem a TMB, que é a taxa de metabolismo basal, e estima as calorias gastas em repouso (ex.: 1.300-1.600 kcal/dia para mulheres de 60 kg, 1.600-2.000 para homens de 80 kg). Fique atento porque valores muito baixos sugerem pouca massa magra ou sedentarismo.
Se seus números não te deixarem muito felizes, eu posso apostar que você sabe o que fazer. Mas, não custa lembrar. Coma melhor e menos, faça atividade física regular, mantenha-se hidratado, e procure ter um sono de melhor qualidade. E se possível gerencie melhor o seu estresse, já que ele ele tem uma relação direto com a gordura abdominal. Mas, essa história fica pra outra coluna.
Por Marcio Atalla, Embaixador da Relaxmedic, Professor de Educação Física, com especialização em Treinamento de Alto Rendimento, e pós-graduação em Nutrição, pela USP.