Por Renato Carvalho e Eleonora Stocchero Fonseca*
Os suplementos alimentares ganharam protagonismo silencioso em uma era em que saúde, estética e performance ocupam o centro das atenções. Seja para aumentar a massa muscular, reforçar a imunidade ou compensar lacunas de uma dieta desequilibrada, esses produtos se consolidaram nas prateleiras e no dia a dia de milhões de pessoas.
Uma matéria recente publicada em uma revista de grande circulação trouxe críticas severas ao setor de suplementos e ao mercado de bem-estar, apontando promessas irreais, marketing pseudocientífico e produtos de eficácia questionável. Esse tipo de análise é relevante, mas também exige ponderação: reduzir toda a indústria a um único rótulo negativo é uma simplificação injusta e equivocada.
Há, de fato, exageros e empresas oportunistas. Mas também existe um segmento sério, pautado pela ciência, responsabilidade e qualidade. Quando utilizados com orientação adequada, alguns suplementos têm papel importante na promoção da saúde. O debate precisa, portanto, ser mais equilibrado: reconhecer falhas e riscos, sem ignorar os benefícios já comprovados.
Suplementação nutricional: relevância em tempos modernos
No cotidiano acelerado atual, manter uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e proteínas de qualidade é um desafio real. Muitas vezes, a falta de tempo ou de acesso a alimentos frescos compromete o padrão nutricional ideal. Quando se fala em ingestão adequada de proteínas, por exemplo — fundamental para prevenir a perda de massa muscular ao longo da vida —, grande parte das pessoas encontra dificuldades em alcançar as quantidades recomendadas apenas pela dieta. É nesse contexto que a suplementação pode fazer diferença. Não substitui hábitos saudáveis, mas ajuda a preencher lacunas nutricionais de forma prática e eficaz. O problema é que, junto a produtos de real valor, também circulam promessas enganosas, como sucos “detox” que afirmam eliminar toxinas do corpo — quando na realidade essa função é naturalmente desempenhada pelo fígado e pelos rins. Ainda assim, não se pode desmerecer suplementos com base científica e eficácia comprovada, desenvolvidos justamente para suprir necessidades específicas.
Quando o suplemento faz sentido: evidências científicas em destaque
Nem todos os suplementos são placebo ou truques de marketing. Há exemplos sólidos de compostos cuja eficácia é reconhecida:
- Creatina monohidratada: aumenta força e massa muscular, com evidências recentes também em benefícios cognitivos e de preservação muscular em idosos.
- Ômega-3 (EPA e DHA): auxilia na saúde cardiovascular e possui ação anti-inflamatória, com estudos indicando redução do risco de eventos como infartos e AVCs em determinados grupos.
- Vitamina D: essencial para ossos, músculos e imunidade. Deficiências são comuns em áreas urbanas, e a suplementação adequada pode prevenir doenças.
- Colágeno tipo II: estudos clínicos apontam melhora de dor e mobilidade em casos de osteoartrite de joelho.
Esses exemplos mostram que suplementos podem, sim, ser aliados estratégicos à saúde quando usados corretamente. Ignorar tais evidências seria tão prejudicial quanto acreditar em qualquer promessa milagrosa.
Regulação e fiscalização: papel indispensável
O Brasil avançou nesse campo. Desde 2018, a Anvisa estabeleceu regras específicas para suplementos, determinando limites de dosagem, exigência de comprovação científica para alegações e padrões de composição. Mesmo assim, os desafios são grandes: em 2023, quase metade das infrações alimentares registradas pela agência envolviam suplementos — muitas vezes por propaganda enganosa, ingredientes proibidos ou comercialização irregular.
Isso mostra a importância de uma fiscalização constante e rigorosa. Porém, é necessário cuidado para não confundir abusos pontuais com o mercado como um todo. Generalizações extremas, sejam de otimismo cego ou de ceticismo absoluto, distorcem a realidade e podem prejudicar a saúde da população.
Educação e responsabilidade compartilhada
A construção de um mercado de suplementos mais saudável depende de duas frentes: consumidores bem-informados e empresas comprometidas.
Do lado do público, é essencial adotar senso crítico: desconfiar de promessas milagrosas, ler rótulos, entender a função de cada nutriente e buscar orientação profissional (nutricionistas e médicos) antes de iniciar qualquer suplementação. Vale lembrar que até nutrientes benéficos podem causar danos quando ingeridos em excesso.
Do lado das empresas, a responsabilidade é enorme. Marcas éticas investem em pesquisa, testam seus produtos, seguem boas práticas de fabricação e comunicam resultados de forma transparente, sem exageros ou falsas expectativas. Essa postura fortalece a confiança do consumidor e contribui para um mercado mais sólido.
Os suplementos alimentares não são a solução mágica que parte da publicidade sugere, nem tampouco inúteis, como afirmam alguns críticos. Quando regulamentados, fiscalizados e utilizados com critério, podem ser aliados valiosos da saúde.
O equilíbrio está em reconhecer os riscos e coibir abusos, sem apagar os benefícios reais que a ciência já comprovou. Um mercado de suplementos mais saudável depende, em igual medida, de consumidores conscientes e de empresas que atuem com ética e responsabilidade.
*Renato Carvalho é CEO da Relaxmedic.
*Dra. Eleonora Stocchero Fonseca é médica no Centro Médico Viver Melhor.